Por Leonardo Rizzo
As primeiras semanas de 2023 não conseguem desenhar como será de fato o ano. E que ano de desafios teremos. Emprego, juros, inflação e contas públicas – fora a transição de um modelo de gestão para outro, que já seria tenso em situações normais, mas triplica a dificuldade pela contaminação do excesso de paixão política, conflito ideológico polarizado e uma visão econômica colocada como coadjuvante neste cenário turbulento.
O gargalo das contas públicas – o câncer que tem combalido o Brasil há quase uma década – agrava-se sempre ao final de um ano de eleições. A virada de 2022 para 2023 não fugiu em nada ao velho roteiro Brasil. Gastos em excesso e pouco produtivos, o que atiça uma inflação já resistente e juros nas alturas sem surtir efeito esperado. Essas boas-vindas do ano que começa já dão dimensão de que teremos um ano de muita luta – seja empresário, trabalhador ou profissional liberal.
Se os juros começassem a cair, já ajudava. Mas com esse furo nas contas públicas – e essa correria por dinheiro novo para promessas antigas – e todo pacote de incertezas, penso que podemos esquecer queda de juros neste ano. E, com juros altos, nós sabemos que é muito complicado para boa parte dos mercados, inclusive o imobiliário, que é uma solução prática para resolver a questão do emprego.
O governo tem de cuidar para que a dupla inflação e juros altos não desencadeiem uma onda de desânimo e engavetamento de projetos. O que vimos em novembro e dezembro foi um clima de insegurança do consumidor – os números do IBGE e Serasa de comércio e indústria que captaram essa retração. A leitura é perigosa porque pode se tornar, se alongar mais este ciclo de insegurança, um forte agravante para reter investimentos.
Em alguns segmentos da economia, prevejo uma retomada antecipada, e saem fortalecidos já a partir deste ano. A construção civil de baixa renda é um segmento que desponta, porque vão injetar muito dinheiro nesse setor – e a expectativa de gerar muito emprego. O agronegócio também deve ter um bom ano, pois o novo chanceler brasileiro, Mauro Vieira, tem tudo para fazer acordos internacionais para favorecer o agrobusiness no Brasil, porque é um embaixador com conhecimento vasto: boas expectativas.
Temos um estado grande, inchado, lento e desigual. E, de fato, é a própria desigualdade social que nos impede de sermos maiores. Lutar para reduzi-la é papel fundamental de todo brasileiro – e o primeiro passo é reformar o País, começando pela administrativa e caminhando para a tributária. Precisamos lutar contra um estado tão caro, que nos trava e impede de ser uma potência mundial. É o que temos para 2023.
Mas eu acredito que os nossos ativos vão se manter valorizados, mesmo com o juro alto e com menos negócios. A transição política chegou e está em implantação. Mas a sociedade almeja, há anos, é uma transição econômica, deixar a paralisia para trás e a inflação, alcançar de fato valor pela nossa produção e nosso trabalho.