A cultura goiana é recheada de contação de causos. Alguns com traços de
verdade e outros tão arraigados no imaginário que se tornaram normais apesar de
seu aspecto surreal e misterioso.
Muitas dessas lendas ainda são contadas em rodas de família e
acampamentos, e apesar de fazerem parte de nossa história há muitas gerações
continuam presentes e carregadas de superstições, medo e até de justificativa
para fatos nunca esclarecidos.
Muitos já ouviram falar do Saci Pererê, da Mula Sem Cabeça e do famoso
Lobisomem que já foi tema para o cinema e para a televisão. E para relembrar algumas
dessas lendas, sente-se ao lado de uma fogueira, em noite de lua cheia, e
confira algumas das mais famosas estórias goianas.
- Romãozinho – Essa é uma versão goiana do Saci Pererê que conta a história de um menino muito malvado chamado Romãozinho. A lenda diz que certo dia ele foi incumbido pela mãe de levar comida para o pai, que estava na roça. No caminho ele resolveu comer os pedaços de frango e deixar somente os ossos. Quando o pai se assustou em ver apenas os ossos o garoto disse que sua mãe havia mandado apenas aquilo. Enfurecido, o homem foi para casa e deu uma grande surra em sua mulher. O menino por sua vez, morria de rir. Foi então, que sua mãe lhe rogou uma praga em que ele não seria aceito pelo céu e nem pelo inferno por tamanha maldade. Desde então Romãozinho vaga pelo sertão fazendo suas peraltices como quebrar telhados com pedras, assombrar pessoas, tirar o choco das galinhas, sempre espalhando o caos e se divertindo com tudo isso.
- Negro d’água – Este lendário habitante dos rios e que tem características de répteis ou patos, dependendo da contação, e tido por alguns como defensor das águas, ganhou um monumento de doze metros de altura em sua homenagem no leito do rio São Francisco. Não se sabe muito sobre a origem desta lenda, mas em todas as suas versões, o Negro d’água amedronta canoeiros e pescadores partindo anzóis de pesca, furando redes e virando os barcos. Em algumas regiões, a estória é tão presente que ainda existem pescadores que, ao sair para pescar, levam uma garrafa de cachaça e a jogam para dentro do rio, para que não tenham sua embarcação virada.
- Pé-de-Garrafa – Quem já o encontrou dizia que é um homem selvagem, peludo, com
enormes garras e que só tem o pé esquerdo deixando pelo solo apenas uma pegada redonda. As suas pegadas não parecem as de nenhum animal por seu
pé ter formato de garrafa. A criatura anda pelas matas e emite
gritos agudos com o objetivo de atrair caçadores. Estes não devem desafiar o Pé-de-Garrafa, pois o bicho costuma matá-los ou aprisionar a alma do infeliz numa
garrafa. A única maneira de escapar das suas garras é atingir o seu ponto
fraco, o umbigo branco, único local do monstro que não é coberto por pelos.
- Rodeiro – Essa é uma das lendas mais assustadoras e conta a estória de uma arraia monstruosa
e arredondada que foi batizada pelos moradores do sertão goiano como Rodeiro,
ou Bicho Rodeiro. Reza a lenda que a arraia gigantesca habita o Vale do Rio
Araguaia e dizem que o sinal de sua chegada pode ser percebido com uma agitação
repentina do rio. E nessa hora, mesmo os pescadores mais experientes ficam
apavorados por já saberem o que pode acontecer: o Rodeiro ataca a embarcação
levando todos para o fundo do rio onde os devora por completo.
- Casa com 365 janelas – Essa é uma daquelas lendas de arrepiar e conta a estória
de uma grande casa construída por um dos homens mais ricos de Goiás no século
XIX, o
comendador Joaquim. Segundo a lenda, o homem quis construir um casarão com 365
janelas, uma para cada dia do ano. E não poupou esforços e dinheiro para
construir o que ficou conhecido como o Palacete do Comendador. Ele teria usado
o que havia de mais nobre e caro na época para construir os dois pavimentos que
contemplavam salões de festas, cozinhas, escritórios e muitos cômodos para
hóspedes. Após a morte do proprietário, que não deixou herdeiros, o povo entrou
na casa para saquear seus tesouros e levaram o que puderam: de copos e janelas
a partes do piso. Os pedaços da casa foram então usados em várias construções
na região de Pirenópolis, o que enfureceu o espírito do comendador que vagueia
pela cidade em busca das de sua antiga casa das 365 janelas. Muitos dizem ouvir
seus passos, mas a veracidade desta construção nunca foi comprovada por
registros históricos.
- Arranca-línguas:
Essa
lenda assustadora conta sobre uma criatura monstruosa, que parece um grande
gorila e é maior que um homem. O Arranca-línguas fica à espreita de suas vítimas
que podem ser seres humanos ou animais. Ele se alimenta de línguas e ataca
bois, cavalos e cabras com muita crueldade. Com os humanos sua estratégia é se
fingir de tronco ou árvore frondosa para atacar os desavisados que se encostam
para descansar. Ele vive às margens do rio Araguaia, e algumas versões da lenda
dizem que ele só ataca os ladrões de gado. Quem garante que já o viu relata um
bicho cabeludo, de voz fanhosa e cara achatada.
Além dessas lendas podemos
citar outras muito conhecidas como a Mãe-do-Ouro, o Boitatá, o Caipora, o
Anhagá, A Tereza Bicuda e o Fantasma de Maria Grampinho. Todas elas muito
assustadoras e surreais, mas que fazer parte da cultura e da história de nosso
querido Goiás.